Rodrigo Constantino (economista e colunista da Gazeta do Povo) |
Existe uma ala “bolsonarista” que sempre me incomodou bastante. É a turma neófita de direita, que mal sabe o que é conservadorismo, e que resolveu colocar o ex-presidente como “mito” e demonstrar uma lealdade pessoal canina. Essa turma simplesmente não aceita qualquer crítica ao líder.
Entrevistei na minha live TudoConsta esta terça o senador Eduardo Girão. Ele tem sido uma voz firme contra o ativismo judicial supremo, assumindo com coragem o papel de cobrar explicações e apontar absurdos. Ele também é um opositor ferrenho do petismo. Mas Girão foi atacado por “bolsonaristas” mais fanáticos como “isentão”.
A maioria, é verdade, apreciou a entrevista, focou nas falas do senador e elogiou seu trabalho. Mas essa minoria barulhenta preferiu fazer birra, acusá-lo de “desarmamentista” e enxergar tramoia e traição em todo lugar, como quando Girão simplesmente elogiou o governador Tarcísio Freitas. Ele estaria tentando jogar um contra o outro, alegaram os paranóicos.
Trago isso aqui pois a mentalidade binária tem sido prejudicial demais para a direita. O mesmo ocorre nos Estados Unidos com o trumpismo. Há seguidores fanáticos de Trump que já demonizam o governador Ron DeSantis, acusando-o de globalista, marionete do Soros etc. Tais ataques são ridículos e atendem apenas aos interesses do próprio Trump de vencer as disputas primárias, mas não aos interesses do GOP e da nação.
O inimigo é outro. É a esquerda radical, a turma que fez o L, a patota woke e, sim, os “isentões” que fingem ser oposição a tudo isso, mas preferem dedicar o tempo todo a ataques aos próprios conservadores. Mostrar como um MBL da vida fez o jogo petista é correto e importante para a direita, mas confundir MBL com alguém como o senador Girão é um enorme equívoco e uma grande injustiça.
Uso o caso do Girão como exemplo para vários outros. Temos, infelizmente, observado essa postura em alguns “bolsonaristas”. À exceção do seu “mito”, ninguém mais presta. Eles ignoram o conselho de Reagan: se alguém concorda 80% com nossas ideias, então é um amigo, não inimigo (a menos, claro, que os 20% de discordância sejam sobre os temas mais essenciais).
Enquanto a direita briga entre si, a esquerda segue o baile. Blogueiros tucanos saem em defesa de ministros petistas na imprensa. Verinha no Globo chega a considerar que Flavio Dino se divertiu na CCJ e evitou cair nas “armadilhas bolsonaristas”, ignorando que faltou o ministro explicar o principal: como foi a um local dominado pelo tráfico sem qualquer escolta policial?
Empreiteiras comemoram a volta do PAC, de olho nos bilhões do governo após jejum de obras públicas. É a farra dos corruptos, enquanto “bolsonaristas” atacam vozes da oposição por picuinhas. O STF ativista pode liberar o plantio de maconha no país, atropelando o Congresso. O governo avança na criação do Ministério da Verdade, de olho na censura geral. A economia afunda. O caos vai se instalando rápido, como aconteceu na Argentina, que fez o L mais cedo e colhe agora uma hiperinflação nefasta.
Em política é preciso definir prioridades. E, acima de tudo, é fundamental saber quem são realmente os inimigos. Insistir no “fogo amigo” pois o sujeito não demonstrou “lealdade canina” ao seu líder é tudo que os adversários mais querem. Foco, gente!
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