Rodrigo Constantino (economista e colunista da Gazeta do Povo)
Era para ser uma semana de festa para os democratas. Afinal de contas, Trump se entregou à prisão de Fulton, na Georgia, conhecida por não ser particularmente um local agradável. O ex-presidente foi fichado e teve sua foto oficial tirada, apesar de a lei não exigir no caso de o estado ter alguma foto recente do "meliante" - e parece que há algumas fotos recentes disponíveis de Trump.
Não obstante, era justamente este o propósito: conseguir uma imagem de Trump como um marginal fichado, um bandido comum. Até porque Trump pagou fiança de $200 mil e não ficou detido em Fulton, como todos sabiam que aconteceria. O presidente Joe Biden achou adequado tuitar no mesmo momento em que Trump se entregava a seguinte mensagem: "Hoje é um bom dia para você contribuir para minha campanha".
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Se todos já sabiam que este quarto indiciamento em poucos meses era uma jogada política, a mensagem de Biden deu aquela colaborada final para não restar mais qualquer dúvida. É tudo um jogo de cena e uma bizarra perseguição política, típica de republiqueta das bananas, de país nada sério onde autoridades importantes mandam acima das leis.
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Trump tem décadas de vida pública, desde empresário do setor imobiliário em Nova York até apresentador famoso de TV. Nunca foi indiciado de nada. Eis que, de repente, sofre logo quatro de uma vez, enquanto gente como Hillary Clinton segue blindada da Justiça. É acusado de dezenas de crimes sem qualquer sentido.
Como eu disse no começo, era para ser uma semana feliz para os democratas. Não era isso que buscavam desde o começo? Ocorre que deu tudo errado. O próprio Trump, que sabe como ninguém como atuar perante uma câmera, pois faz isso desde os seus vinte anos, utilizou a "mug shot" a seu favor.
Trump posou para a foto fazendo uma cara que transmite não medo ou sequer raiva, mas determinação de fazer justiça e se vingar de seus algozes. Ele já disse ser a vingança de todos que se sentem preteridos ou perseguidos pelo sistema. Trump aproveitou para pedir apoio à sua campanha para quem pudesse, reconhecendo que muitos passam dificuldades por conta da incompetência do atual governo. Ele arrecadou mais de sete milhões de dólares em poucas horas!
Sem Flávio Dino ou Alexandre de Moraes para "investigar" as doações recebidas, Trump pode esfregar na cara de seus adversários o quanto é popular, e o quanto cresce quando batem ma,is nele. É como massa de pão, ou então um monstro de lama: jogam lama nele e ele usa isso para ficar mais forte.
Trump é antifrágil. E o povo não gosta de injustiça, de perseguição política. Tudo isso tem servido para garantir que Trump leve as primárias republicanas. Se ele será capaz de seduzir os independentes, aí já é outra história.
Biden prefere disputar com Trump por sua alta rejeição, não resta dúvida. Talvez alguém como Ron DeSantis tivesse mais chance concreta de derrotar o democrata. Mas diante de tanta perseguição política, parece improvável não ser Trump o candidato. E ele tem chance de vencer também. Seria uma resposta e tanto a um sistema que pretende transformar a América numa espécie de Brasil...
Publicado em Gazeta do Povo
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